Conforme já comprovamos dezenas de vezes nos últimos 30 anos, a história do negro em Minas Gerais foi deformada pelo preconceito e pela má-fé de Gomes Freire de Andrade e pelos governadores que o sucederam nessa Capitania, onde sobressaiu o lacaio do poder, Inácio Correia Pamplona que, com a missão de criar factoides que turbassem o domínio e a posse do Triângulo Goiano (que desde Gomes Freire se pretendeu abocanhar para as Minas Gerais), produziu direta ou indiretamente escritos eivados de deformações geográficas e cronológicas, além de muitas outras supressões e falsidades, onde se destacam o famoso relatório de sua suposta viagem de 1769 ao Triângulo e a famigerada carta que a Câmara de Tamanduá teria escrito à Rainha em 1793, obras primas das mentiras de Pamplona, o barão de Münchahusen português.
Essas supressões, mutilações, distorções e falsificações de documentos levaram a erro gerações e gerações de historiadores e permitiram ao monarquismo-reverencial e ao racismo nadarem de braçadas na manutenção da ideia de que os negros sempre foram subservientes e que somente foram remidos da escravidão pela bondade da princesa Isabel, a redentora – insinuando que, caso contrário, seriam escravos até hoje.
A própria História da Confederação Quilombola do Campo Grande foi por mais de duzentos anos, pelas razões acima, suprimida, pulverizada, negada por historiadores racistas. Outros, ante a isolados gritos documentais que acharam nos arquivos mineiros e paulistas, se inebriaram com a luz da manchete e ficaram apenas na crônica documental estanque, de maneira a justificar os seus próprios pontos de vista, poucos a favor e muitos contra qualquer fato que pudesse significar a não subserviência do negro, ou a importância e magnitude de sua luta quilombola e outras contribuições do negro para a construção da Pátria Mineira.
As notícias trazidas pelo genealogista paulista, Pedro Taques de Almeida Pais Leme (nascido em 1714 e falecido em 1777) dos famosos 3.900 pares de orelha que Bartolomeu Bueno do Prado, comandante do último ataque aos Quilombos da Confederação Quilombola do Campo Grande (1757 a 1760), teria apresentado ao governador, dos quilombolas que destruiu nessa guerra, por traduzir alguma magnitude dessa guerra contra os quilombolas – assim como centenas de outros fatos – vinham, até então, sendo sistematicamente negadas por historiadores paulistas e mineiros.
Veja-se que na Revolução Constitucionalista de 1932 o número oficial de mortos seria de 930 pessoas e o número não oficial seria de 2.000 a 2.200 pessoas. Já, a participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial – quando o Brasil tinha uma população de mais de 40 milhões de habitantes – não registrou mais que 2.000 mortes de soldados brasileiros (Menos de 0,09% da população). Realmente, aceitar que só Bartolomeu Bueno do Prado teria matado 3.900 quilombolas em 1759-1760, considerada a diminuta população da Capitania Mineira nesse época, seria o mesmo que aceitar que houve mesmo um genocídio contra os quilombolas da Confederação do Campo Grande. É exatamente por isso que os genocidas de antanho e os racistas de ontem e de hoje tinham que fazer e ainda fazem o diabo para contestar esse número que, Pedro Taques no afã de respaldar o direito de vingança da nobreza paulista de Goiás, deixou escapar para a posteridade.
Transcrevemos essas informações de Pedro Taques, contidas em seu livro manuscrito chamado “Nobiliarquia Paulistana Histórica e Genealógica”, apresentando em PDF um texto de 10 páginas com 33 notas de rodapé, comprovando documentalmente a verossimilhança e a verdade da informação desse historiador e genealogista paulista. Clique aqui. Boa Leitura