A lei nº 10639 de 2003 introduziu o artigo 26-A na lei nº 9.394 de 1996 que tornou obrigatório o ensino sobre a História e a Cultura Afro-Brasileira nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio. Porém, de que adianta isso se, na maioria esmagadora de nossos Estados, não existe um conteúdo sério e verdadeiro da História do Negro para ser ensinado em nossas escolas?
Quem não tem uma HISTÓRIA não poderá jamais ter a verdadeira dignidade humana! É por isso que roubaram a História do Negro na maioria dos Estados brasileiros. Em Minas Gerais denunciamos o roubo da História do Povo Negro, devolvemos essa História através dos livros e matérias divulgados pelo site MGQUILOMBO e acusamos quais foram e ainda são os seus ladrões.
A sete de setembro de 1759, no Quilombo da Pernaíba, junto às nascentes do córrego Feio, afluente direito do rio Dourados, morreu em batalha o negro Ambrósio, pai e rei de todos os quilombos do Campo Grande, confederação de vilarejos esparramados pelos atuais Centro, Centro-oeste, Alto São Francisco, Alto Paranaíba, Sudoeste e Triângulo mineiros.
A capital do Campo Grande, que até 1746 situava-se na região das atuais Arcos, Formiga, Pains e Cristais, após a Primeira Guerra Quilombola – apesar das tropas de Antônio João de Oliveira NÃO terem vencido os quilombolas e de ter o Rei Ambrósio saído ileso, resolveu este a mudar sua capital para a região hoje situada entre Campos Altos e Ibiá.
Uma semana antes do ataque de 1759, vendo a superioridade das tropas comandadas por Bartolomeu Bueno do Prado, o Rei Ambrósio e sua corte se deslocaram para o acima citado Quilombo da Pernaíba, situado a nordeste da atual cidade de Patrocínio, também dentro do Triângulo Mineiro.
Nessa época o Triângulo não era mineiro. Percorrida pelos paulistas desde meados dos anos seiscentos, a região entre os rios Grande e Paranaíba, até 1748, pertencia à Capitania de São Paulo. Extinta a capitania paulista (sim, a Capitania de São Paulo foi extinta em 1748), nesse mesmo ano foram simultaneamente criadas as capitanias autônomas de Mato Grosso e Goiás. O decreto real que criou a Capitania de Goiás já trouxe suas fronteiras sul até o rio Grande, ficando, assim, lhe pertencendo o Triângulo que era paulista e, assim, se tornou Goiano. Mas nunca fora Mineiro.
O governo português das Minas Gerais, sentindo grande vergonha por não ter conseguido derrotar o Rei Ambrósio em 1746, contratou Inácio Correia Pamplona – o maior mentiroso que já se viu nas Minas Gerais – para que este esparramasse mil versões falsas dizendo que o Rei Ambrósio fora morto em 1746 e que tanto essa guerra como a de 1759 teriam ocorrido dentro do Triângulo para, com essas mentiras, conseguir também roubar o Triângulo de Goiás e transferi-lo para Minas, fato que foi conseguido somente em 1816, sendo que as igrejas do Triângulo ainda continuaram a pertencer ao bispado de Goiás até inícios do século XX. Uma forma rápida de calar a boca dos falsos sabichões é mostrar-lhes mapas de Minas Gerais até 1815-1816 e pedir-lhes que expliquem, então, por que, nesses mapas, Minas não tinha “nariz”, ou seja, não tinha anexado ao seu território o nosso atual Triângulo Mineiro.
O Triângulo, hoje, sem dúvida é Mineiro. Mas não vale a pena continuar a mentir tanto para justificar esse esbulho que praticamos contra Goiás se, com essas mentiras, estamos também roubando a gloriosa História do Campo Grande e também a dignidade dos negros de Minas Gerais e de Goiás.
Sim, é por isso que o MGQUILOMBO está há anos divulgando pesquisas e estudos sérios que acusaram essa História de Minas Roubada do Povo, devolveram essa História ao Povo e, finalmente, mostraram quem roubou essa História do Povo.
O Quilombo do Campo Grande foi três vezes maior que Palmares em número de vilas. Até 1750 agregou pretos fugidos da escravidão, além de pretos forros, brancos pobres e seus ex-escravos, todos fugidos do terrível Sistema Tributário da Capitação. Em 1750, extinto esse tributo, o Rei Ambrósio que era negro livre e rico poderia ter voltado a viver nas vilas dos brancos. Mas, ao invés disso, preferiu continuar a liderar os escravos fugidos e proscritos para, com eles, nos ensinar a morrer, se preciso for, em defesa da honra, da dignidade e da liberdade que a Coroa portuguesa quis destruir nos negros que escravizou desde a África.
Assim, a dignidade negra ficou sublimada em 7 de setembro de 1759, quando o Rei Ambrósio e seus valentes tombaram em batalha terrível no Quilombo da Pernaíba. O MGQUILOMBO conclama os negros mineiros e goianos a que olhem para frente e para o alto com a dignidade de quem tem antepassados que nunca se renderam a qualquer opressão. A História emergiu das cinzas de velhos mapas e documentos e está VIVA. Quem tem história tem dignidade. Essa História é nossa. Reaprendam-na e a ensinem a seus filhos e netos. Viva 7 de setembro! Viva o Rei Ambrósio!
Tarcísio José Martins
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